O que é o Câncer de Tireoide?
O câncer de tireoide é uma neoplasia que se origina na glândula tireoide, localizada na região do pescoço, logo abaixo da laringe. A tireoide é uma glândula endócrina responsável pela produção de hormônios que regulam importantes funções do corpo, como o metabolismo e o crescimento. Embora seja considerado um tipo raro de câncer, sua incidência tem aumentado nos últimos anos, especialmente em mulheres. Este câncer pode se manifestar em diversos tipos histológicos, e seu prognóstico varia dependendo do tipo, estágio e tratamento adequado.
Existem quatro tipos principais de câncer de tireoide:
- Câncer Papilífero: O mais comum, responsável por cerca de 80% dos casos. Geralmente, esse tipo de câncer cresce lentamente e tem um prognóstico favorável.
- Câncer Folicular: Compreende cerca de 10-15% dos casos e é mais prevalente em mulheres mais velhas. Apesar de sua natureza mais agressiva em comparação ao papilífero, o prognóstico ainda é positivo com tratamento adequado.
- Câncer Medular: Esse tipo de câncer representa cerca de 3-5% dos casos. Ele tem origem nas células C da tireoide, que produzem a calcitonina. Pode estar associado a síndromes genéticas, como a neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (MEN 2).
- Câncer Anaplásico: Responsável por 1-2% dos casos, é o tipo mais raro e agressivo. Seu tratamento e prognóstico são mais desafiadores devido à sua rápida progressão e resistência ao tratamento convencional.
Causas e Fatores de Risco
O câncer de tireoide não tem uma causa única definida, mas vários fatores podem aumentar o risco de desenvolvê-lo. Entender esses fatores pode ajudar a identificar grupos de risco e implementar medidas preventivas ou de monitoramento.
- Idade e Sexo
O câncer de tireoide afeta principalmente mulheres, com uma prevalência três vezes maior que nos homens. A incidência aumenta na faixa etária de 30 a 60 anos, sendo mais comum entre as mulheres após a adolescência. A razão para a maior prevalência em mulheres não é totalmente compreendida, mas fatores hormonais podem desempenhar um papel importante.
- Histórico Familiar e Genética
Estudos mostram que mulheres com histórico familiar de câncer de tireoide têm um risco maior de desenvolver a doença. Além disso, algumas condições genéticas hereditárias, como a síndrome de Cowden e a neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (MEN 2), aumentam o risco de câncer medular da tireoide. A mutação de genes específicos, como o RET, está associada a esses tipos de câncer.
- Exposição à Radiação
A exposição à radiação, especialmente durante a infância ou em tratamentos médicos, é um dos principais fatores ambientais associados ao câncer de tireoide. A radiação ionizante pode danificar as células da tireoide, levando ao desenvolvimento de células cancerígenas. Isso é particularmente relevante em áreas afetadas por desastres nucleares ou tratamentos de radioterapia.
- Doenças Endócrinas e Condições Pré-existentes
Mulheres com doenças autoimunes, como a doença de Hashimoto, podem ter um risco aumentado de câncer de tireoide, particularmente o tipo papilífero. Pacientes com nódulos tireoidianos benignos ou bócio multinodular também apresentam risco aumentado de desenvolver câncer de tireoide, embora a maioria dos nódulos seja benigna.
- Deficiência de Iodo
Em áreas onde a deficiência de iodo é prevalente, há um aumento no risco de câncer de tireoide, especialmente em regiões onde a população não tem acesso ao sal iodado. No entanto, com a iodação do sal, essa causa se tornou menos relevante em países desenvolvidos.
Sintomas do Câncer de Tireoide
Em muitos casos, o câncer de tireoide é assintomático, especialmente em suas fases iniciais. No entanto, à medida que o tumor cresce, os sintomas começam a se manifestar. Abaixo estão alguns dos sintomas mais comuns:
- Nódulo no Pescoço
O sintoma mais comum do câncer de tireoide é a presença de um nódulo na parte inferior do pescoço, que pode ser identificado durante o exame físico. Em muitos casos, esses nódulos são indolores, o que pode dificultar o diagnóstico precoce.
- Alterações na Voz (Rouquidão)
Se o tumor afetar os nervos responsáveis pela movimentação das cordas vocais, pode ocorrer rouquidão ou mudanças na voz. Isso é mais prevalente no câncer medular e anaplásico.
- Dificuldade para Engolir ou Respirar
À medida que o tumor cresce, ele pode pressionar a traqueia ou o esôfago, resultando em dificuldade para engolir (disfagia) ou respirar (dispneia).
- Inchaço dos Linfonodos
Em casos avançados de câncer de tireoide, as células cancerígenas podem se espalhar para os linfonodos do pescoço, causando inchaço ou endurecimento desses gânglios.
- Dor no Pescoço ou Garganta
Embora o câncer de tireoide não cause dor nos estágios iniciais, em estágios mais avançados, pode ocorrer dor localizada no pescoço ou garganta.
Diagnóstico do Câncer de Tireoide
O diagnóstico do câncer de tireoide envolve uma combinação de exames clínicos, laboratoriais e de imagem. A detecção precoce aumenta as chances de tratamento bem-sucedido, o que torna fundamental o acompanhamento médico para qualquer sinal ou sintoma suspeito.
- Exame Físico
O primeiro passo no diagnóstico é o exame físico realizado pelo médico. Durante o exame, o médico palpa a área do pescoço para identificar a presença de nódulos ou linfonodos aumentados.
- Ultrassonografia de Tireoide
Este é um dos principais exames de imagem utilizados para avaliar a tireoide. A ultrassonografia ajuda a determinar se o nódulo encontrado é sólido ou cístico, além de fornecer informações sobre sua forma, tamanho e localização.
- Exames de Sangue
Embora os exames de sangue para medir os hormônios tireoidianos (TSH, T3 e T4) não possam confirmar o diagnóstico de câncer, eles são úteis para avaliar a função da glândula. Para o câncer medular, os níveis de calcitonina no sangue podem ser um marcador importante.
- Biópsia por PAAF (Punção Aspirativa por Agulha Fina)
A biópsia por PAAF é o exame mais definitivo para confirmar a presença de células cancerígenas na tireoide. A punção de um nódulo suspeito permite coletar células para análise laboratorial.
- Tomografia Computadorizada (TC) ou Ressonância Magnética (RM)
Esses exames de imagem podem ser utilizados para avaliar a extensão do câncer e a presença de metástases, especialmente em casos mais avançados.
Tratamentos para o Câncer de Tireoide
O tratamento do câncer de tireoide depende de diversos fatores, incluindo o tipo e estágio do câncer, e a saúde geral do paciente. As principais opções incluem:
- Cirurgia
A cirurgia para remoção total ou parcial da glândula tireoide (tireoidectomia) é a principal forma de tratamento para o câncer de tireoide. Em muitos casos, a remoção dos linfonodos próximos também é necessária.
- Terapia com Iodo Radioativo
Após a remoção da tireoide, muitos pacientes são tratados com iodo radioativo para destruir células cancerígenas remanescentes ou metastáticas. Este tratamento é especialmente eficaz para os tipos papilífero e folicular.
- Radioterapia Externa
A radioterapia é usada em casos de câncer anaplásico ou quando o câncer não responde ao iodo radioativo. Ela pode ser aplicada para reduzir o tumor ou tratar metástases.
- Terapia Hormonal
Após a remoção da tireoide, os pacientes precisam tomar reposição hormonal com levotiroxina, para manter os níveis normais de hormônios tireoidianos no corpo.
- Tratamento Quimioterápico
A quimioterapia não é uma opção padrão para o câncer de tireoide, mas pode ser indicada em casos avançados ou metastáticos, especialmente quando outros tratamentos não são eficazes.
Prognóstico e Perspectivas
O prognóstico do câncer de tireoide é bastante favorável para a maioria dos pacientes, especialmente para os tipos papilífero e folicular. A taxa de sobrevivência em 5 anos para esses tipos de câncer é superior a 90%. No entanto, o câncer anaplásico, que é mais agressivo, tem um prognóstico mais reservado, com uma taxa de sobrevivência muito baixa.
Conclusão
O câncer de tireoide é uma condição rara, mas que pode ser tratada com sucesso se diagnosticada precocemente. Embora o tratamento envolva cirurgia e outras terapias, a taxa de cura é alta, especialmente nos tipos papilífero e folicular. É fundamental que as mulheres e os homens que notem qualquer alteração na região do pescoço ou outros sintomas relacionados à tireoide busquem avaliação médica imediata.
Referências Científicas
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