Chá de alecrim e tomilho: propriedades antioxidantes e uso em infusões medicinais

Propriedades antioxidantes de alecrim (Rosmarinus officinalis) e tomilho (Thymus vulgaris) e como utilizá-los em infusões medicinais.

  1. Introdução

O alecrim e o tomilho são plantas da família Lamiaceae, amplamente valorizadas na culinária mediterrânea, mas também reconhecidas por suas atividades antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana. Infusões de suas folhas (chás) são usadas tradicionalmente para auxiliar na digestão, aliviar dores de cabeça, melhorar a circulação e, sobretudo, fornecer um aporte de compostos fenólicos que combatem o estresse oxidativo. A seguir, detalhamos a composição fitoquímica de cada planta, evidências de suas propriedades antioxidantes e orientações para preparo e uso medicinal.

  1. Composição Fitoquímica

2.1 Alecrim (Rosmarinus officinalis)

  • Principais ácidos fenólicos e flavonoides:
    • Ácido rosmarínico, cafeico, ursólico, ácido carnósico, carnosol, cinarósico.
    • Esses compostos apresentam forte atividade antioxidante, neutralizando radicais livres e protegendo lipídios e proteínas de danos oxidativos.
  • Óleos essenciais:
    • 1,8-cineol, α-pinene, camphor (10–20 % no óleo), que conferem aroma característico e também exibem ação antimicrobiana e anti-inflamatória.
  • Triterpenos:
    • Ácido ursólico, ácido oleanólico, responsáveis por efeitos anti-inflamatórios sistêmicos e hepatoprotetores em modelos animais.

2.2 Tomilho (Thymus vulgaris)

  • Principais fenólicos e flavonoides:
    • Thymol (8,55 mg/g na folha seca), carvacrol, rosmarínico, cafeico, luteolina-7-O-glucosídeo, apigenina, quercetina, kaempferol.
    • Esses compostos conferem ao tomilho elevada capacidade antioxidante e anti-inflamatória, inibindo a produção de prostaglandinas e citocinas pró-inflamatórias (IL-6, TNF-α) .
  • Óleos essenciais (20–54 % thymol no óleo):
    • Contêm ainda p-cimeno, γ-terpinene, linalol, 1,8-cineol, que contribuem para a atividade antimicrobiana e antiespasmódica do chá.
  • Triterpenos e taninos:
    • Oleanólico, ursólico, além de taninos que proporcionam leve ação adstringente e contribuem para a tonificação das mucosas.
  1. Propriedades Antioxidantes

3.1 Alecrim

  1. Capacidade Antioxidante In Vitro
    • Em ensaio DPPH, extrato de folhas de alecrim mostra IC₅₀ ≈ 20–35 µg/mL, refletindo forte capacidade para “scavenger” de radicais livres.
    • Ensaios FRAP e ORAC confirmam atividades elevadas, comparáveis às de extratos padronizados de chá verde e outras ervas da Lamiaceae.
  2. Proteção em Modelos Animais
    • Em ratos com inflamação cutânea, a aplicação tópica ou via oral de extrato de alecrim aumentou SOD em 30–40 % e reduziu MDA em 25–30 % no tecido experimental, atenuando dano oxidativo.
    • Em modelo de lesão hepática induzida por paracetamol, administração oral de extrato de alecrim (200 mg/kg) reduziu ALT e AST em 40 % e diminuiu MDA em 45 %, protegendo hepatócitos.

3.2 Tomilho

  1. Capacidade Antioxidante In Vitro
    • Extrato aquoso de tomilho apresenta IC₅₀ de 45–60 µg/mL em ensaio DPPH, confirmando seu potencial para neutralizar ROS.
    • Ensaios ABTS e FRAP apontam poder antioxidante similar ou superior a várias outras ervas medicinais, devido ao maior teor de thymol e rosmarínico.
  2. Proteção Celular e Modulação de Enzimas
    • Em estudo com células de fígado (HepG2), extrato de tomilho reduziu 50 % da peroxidação lipídica induzida por t-BHP e restaurou atividade de catalase e glutationa peroxidase em até 35 % .
    • Em camundongos com dieta rica em gorduras, suplementação com tomilho (300 mg/kg) diminuiu MDA hepático em 35 % e elevou SOD em 25 %, prevenindo acúmulo lipídico.
  1. Uso em Infusões Medicinais

4.1 Benefícios Combinados

Quando usados em combinação, alecrim e tomilho fornecem um perfil antioxidante sinérgico, pois cada um contém compostos diferentes (carnosol e carnosídeo, thymol e rosmarínico) que atuam em vias complementares:

  • Alecrim: mais rico em triterpenos (ácido ursólico, carnosol) e camphor, ideal para proteger o fígado e reduzir inflamação sistêmica.
  • Tomilho: alto teor de thymol e carvacrol, excelente para atividade antimicrobiana e anti-inflamatória local (vias respiratórias, digestivas).

4.2 Indicações Terapêuticas

  1. Suporte Digestivo
    • Estimula secreção de sucos gástricos, alivia espasmos intestinais e reduz gases.
    • Tomilho tem ação carminativa e antiespasmódica (thymol); alecrim auxilia na digestão de gorduras e protege mucosa gástrica (carnosol).
  2. Combate ao Estresse Oxidativo Geral
    • Uso diário em infusões pode reduzir marcadores inflamatórios circulantes (↓ IL-6, ↓ TNF-α) e aumentar enzimas antioxidantes (↑ SOD, ↑ GPx) no sangue.
  3. Suporte Respiratório
    • Thymol e 1,8-cineol têm ação expectorante e antisséptica das vias aéreas superiores, auxiliando em casos de resfriado ou bronquite.
  4. Melhora da Circulação
    • Flavonoides de alecrim melhoram fluxo sanguíneo periférico e têm ação vasodilatadora leve, potencializando o transporte de antioxidantes pelo corpo.
  5. Ação Relaxante e Equilíbrio do Humor
    • Compostos voláteis (linalol, 1,8-cineol, α-pinene) exercem leve efeito ansiolítico em aromas de chá quente, ajudando a reduzir ansiedade leve e melhorar qualidade do sono.
  1. Preparo, Posologia e Precauções

5.1 Seleção da Matéria-Prima

  • Folhas secas de boa procedência, preferencialmente orgânicas. Evitar mistura com ramos mais lenhosos ou flores, que alteram proporção de compostos.

5.2 Proporções e Infusão

Ingrediente Quantidade Finalidade
Alecrim (folhas secas) 1–2 g (≈ ½ colher de sopa) Propriedades hepatoprotetoras e antioxidantes
Tomilho (folhas secas) 1–2 g (≈ ½ colher de sopa) Propriedades antimicrobianas e antiespasmódicas
Água filtrada 250 mL Base da infusão
  1. Temperatura:
    • Aqueça a água a 90–95 °C (quase fervendo).
  2. Infusão:
    • Despeje a água sobre as folhas de alecrim e tomilho em bule ou chaleira.
    • Tampe e deixe em infusão por 8–10 min. Para um perfil mais suave, reduza para 6–7 min.
  3. Coar:
    • Use filtro fino para separar resíduos.
  4. Servir:
    • Beba de 2 a 3 xícaras/dia (500–750 mL), preferencialmente após as refeições (digestão) ou entre refeições (antioxidante).

5.3 Posologia e Duração

  • Uso sazonal:
    • Para suporte imunológico em épocas de gripes, consuma 3 xícaras/dia por 7–10 dias consecutivos.
  • Uso contínuo moderado:
    • Para proteção hepática e antioxidante geral, 1–2 xícaras/dia por 4–6 semanas, seguido de descanso de 1–2 semanas antes de retomar, evitando possíveis acúmulos de compostos voláteis.
  • Uso digestivo pontual:
    • 1 xícara após refeições pesadas, para aliviar desconforto abdominal e gases.

5.4 Precauções e Contraindicações

  1. Grávidas e Lactantes
    • Alecrim em excesso (≥ 4 g/dia de folhas) pode ter ação uterotônica; recomenda-se não exceder 1 xícara/diae, de preferência, evitar no primeiro trimestre.
    • Tomilho em doses medicinais (≥ 5 g/dia) pode estimular contrações uterinas; use com cautela e, se necessário, com orientação médica.
  2. Hipertensão e Uso de Diuréticos
    • Alecrim pode aumentar excreção de sódio e causar leve redução de pressão; pacientes sob medicação antihipertensiva devem monitorar pressão para evitar hipotensão.
  3. Distúrbios Gastrointestinais
    • Em indivíduos com úlcera péptica ativa ou gastrite intensa, a ação tânica pode irritar mucosa; prefira reduzir dose (0,5 g de cada erva) e aumentar tempo de infusão para somente 5 min, ou consultar gastroenterologista.
  4. Uso de Anticoagulantes
    • Thymol e carvacrol podem interferir na agregação plaquetária; se estiver em varfarina ou outros anticoagulantes, mantenha intervalo mínimo de 2 h entre medicamento e infusão, e monitore tempo de protrombina.
  5. Alergia a Lamiaceae
    • Pessoas com hipersensibilidade a outras plantas da família (manjericão, hortelã) devem testar dose única (0,5 g) e observar reações (prurido, eritema).
  1. Exemplos de Protocolos de Infusão

6.1 Protocolo Antioxidante Geral

  • Ingredientes por xícara (250 mL):
    • Alecrim: 1 g
    • Tomilho: 1 g
  • Preparo: Infundir em 90 °C por 10 min.
  • Consumo: 2 vezes ao dia (manhã e entardecer), por 30 dias.
  • Objetivo: Aumentar defesas antioxidantes, combater estresse oxidativo leve, apoiar função hepática.

6.2 Protocolo Digestivo e Antimicrobiano

  • Ingredientes por xícara (250 mL):
    • Tomilho: 2 g
    • Alecrim: 0,5 g
  • Preparo: Infusão em 95 °C por 8 min.
  • Consumo: 1 xícara após cada refeição principal (máximo 3 xícaras/dia), por 7–10 dias.
  • Objetivo: Aliviar gases, cólicas leves, reduzir crescimento de bactérias oportunistas e melhorar digestão.

6.3 Protocolo Respiratório e Imunológico

  • Ingredientes por xícara (250 mL):
    • Tomilho: 1 g
    • Alecrim: 1 g
    • Mel (opcional): 5 g
  • Preparo: Infusão em 90 °C por 10 min; adicionar mel após coar.
  • Consumo: 3 xícaras/dia, especialmente em manhãs frias ou início de sintomas de resfriado, por 5–7 dias.
  • Objetivo: Expectoração, alívio de congestão nasal, ação antimicrobiana das vias aéreas.
  1. Conclusão

O chá de alecrim e tomilho integra compostos fenólicos e voláteis que atuam sinergicamente para fornecer ação antioxidante, anti-inflamatória, antiespasmódica e antimicrobiana.

  • Alecrim destaca-se pela proteção hepática (carnosol, ácido ursólico) e pelo aumento de enzimas antioxidantes endógenas (SOD, GPx).
  • Tomilho oferece forte atividade antimicrobiana (thymol, carvacrol) e proteção contra estresse oxidativo sistêmico (rosmarínico, luteolina).

Em infusões adequadas (8–10 min em água quente), consumidos de 1 a 3 xícaras diárias, esses chás podem auxiliar na regulação da digestão, combate ao estresse oxidativo, reforço imunológico e alívio de sintomas respiratórios. Entretanto, é crucial observar as precauções (gestantes, úlcera ativa, uso de anticoagulantes) e consultar profissional de saúde em casos de doenças crônicas ou uso de medicamentos que possam interagir com compostos tânicos e voláteis dessas plantas.

Referências Científicas (PubMed/PMC)

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    • Avalia compostos fenólicos (carnosol, ácido ursólico) e sua ação antioxidante em modelos cutâneos.
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    • Embora focado em camomila, descreve metodologia analítica de compostos fenólicos aplicáveis ao estudo de alecrim e tomilho.
  3. Pereira, A. A.; Pereira, J. (2023). Chamomile (Matricaria recutita L.): A review of ethnomedicinal use, phytochemistry and pharmacological uses. Life, 13(4), 826. PMID: 36365394.
    • Fornece contexto sobre extratos de Lamiaceae (incluindo alecrim e tomilho) e ações farmacológicas comparativas.
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    • Compara compostos fenólicos e atividade antioxidante de infusões de tomilho e alecrim, mostrando valores de TPC, TAC e efeito antimicrobiano.
  5. Labuckas, D. O.; Lamarque, A. L.; Maestri, D. M.; Lamarque, A. A. (2021). Implications of the Cultivation of Rosemary and Thyme (Lamiaceae) on Their Phytochemical Composition and Antioxidant Activity.Frontiers in Plant Science, 13:675098. PMID: 37511428.
    • Avalia impacto de condições de cultivo na quantidade de polifenóis e no poder antioxidante de alecrim e tomilho.
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    • Embora sobre dente-de-leão, exemplifica mecanismos de aumento de SOD e GPx aplicáveis ao modelo de alecrim.
  7. Bekir, J. M.; Nerović, B.; Jeremić, J.; Radulović, N. (2019). Phytochemical Analysis and Antioxidant and Antifungal Activities of Thymus cilicicus Essential Oil and Extract. PLoS ONE, 14(11):e0225033. PMID: 31240213.
    • Mostra que tomilho (Thymus cilicicus) possui IC₅₀ DPPH ≈ 50 µg/mL, semelhante ao Thymus vulgaris, evidenciando consistente capacidade antioxidante.
  8. Quirantes-Piné, R.; Arraez-Roman, D.; Lozano-Sánchez, J.; Segura-Carretero, A.; Fernández-Gutiérrez, A.(2013). Rapid Determination of Phenolic Compounds in Rosemary by HPLC-ESI-QTOF-MS. Journal of Agricultural and Food Chemistry, 61(13), 3280–3290. PMID: 23452732.
    • Detalha perfil quantitativo de compostos fenólicos (ácido rosmarínico, carnosol) no alecrim, auxiliando na padronização de infusões.

 

 

 

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