Chá de cavalinha: mineralização, fortalecimento de unhas e ossos

Entenda como o chá de cavalinha (Equisetum arvense) pode contribuir para a mineralização óssea, fortalecimento das unhas e saúde do tecido conjuntivo, com base em evidências científicas.

  1. Introdução

O cavalinha (Equisetum arvense) é uma planta pertencente à família Equisetaceae, tradicionalmente empregada na medicina popular como diurético, adstringente e fortalecedor de ossos, unhas, cabelo e tecido conjuntivo. Sua fama decorre principalmente do elevado teor de sílica (um mineral chave para o metabolismo ósseo e das estruturas queratinosas) e de outros compostos fenólicos e flavonoides com ação antioxidante e anti-inflamatória. A seguir, detalharemos a composição fitoquímica, mecanismos de ação, evidências científicas, modo de preparo, dose recomendada e precauções no uso do chá de cavalinha.

  1. Composição Fitoquímica: Sílica e Além

2.1 Teor de Sílica e Minerais

  • Sílica (SiO₂):
    • A sílica é o mineral mais abundante na cavalinha, chegando a representar 8–10 % do peso seco da planta inteira. No organismo humano, o silício é essencial para a formação de colágeno e mineralização óssea, além de ser componente de queratina em unhas e cabelos.
    • Experimentos clássicos em camundongos e galinhas mostraram que a deficiência sistêmica de silício leva a deformidades esqueléticas e fragilidade das estruturas conjuntivas, confirmando seu papel crítico em osteogênese e integridade dos anexos cutâneos (unhas, cabelo)
  • Outros minerais:
    • Além da sílica, a cavalinha contém potássio, manganês, cálcio, ferro e alumínio em menores concentrações. Esses minerais contribuem de forma sinérgica para a homeostase óssea e para as funções enzimáticas envolvidas na síntese de colágeno.

2.2 Compostos Fenólicos e Flavonoides

  • Flavonoides (quercetina, kaempferol, hiperosídeo) e ácidos fenólicos (cafeico, clorogênico) conferem à cavalinha poderoso potencial antioxidante, capaz de neutralizar radicais livres que degradam colágeno e comprometem a microarquitetura óssea.
  • Equisetonina e ácidos silícicos solúveis:
    • Compostos específicos isolados na espécie atuam na inibição da osteoclastogênese (formação de osteoclastos) e na estimulação da osteoblastogênese (formação de osteoblastos), conforme estudos in vitro e em modelos animais; tais mecanismos favorecem o acúmulo de matriz óssea e a melhora da densidade mineral.
  1. Mecanismos de Ação para Ossos e Unhas

3.1 Atua na Mineralização Óssea

  1. Estimulação de Osteoblastos e Inibição de Osteoclastos
    • Ensaios em cultura celular mostraram que extratos de cavalinha reduzem marcadores de atividade osteoclástica (como TRAP) e aumentam a expressão de genes osteoblásticos (ALP, osteocalcina), sugerindo ação direta na regulação do remodelamento ósseo.
  2. Aumento da Densidade Mineral Óssea (DMO) em Modelos Animais
    • Em estudo com ratos, dieta contendo 120 mg/kg de extrato de Equisetum arvense resultou em elevação significativa da densidade mineral óssea mandibular comparado ao grupo controle (p < 0,01), evidenciando efeito anabólico sobre os ossos.
    • Outro trabalho em ratos osteopênicos observou que suplementação com 55 mg/kg de extrato de cavalinhapor 8 semanas aumentou DMO femoral em 22 % e reduziu marcadores de reabsorção óssea (CTX) em 18 %.
  3. Suporte ao Metabolismo do Colágeno
    • O silício favorece a hidroxilação de lisina e prolina durante a biossíntese de colágeno, melhorando a resistência e flexibilidade da matriz óssea e das queratinas das unhas, conforme evidências in vivo.

3.2 Fortalece Unhas e Tecidos Queratinizados

  1. Componente Essencial da Queratina
    • As unhas são constituídas principalmente por queratina e pequenos percentuais de minerais, entre eles o silício, que confere firmeza e resistência à flexibilidade do leito ungueal.
  2. Evidência Clínica em Onicodistrofias
    • Em estudo clínico controlado, aplicação tópica de laca fortalecedora contendo extrato de cavalinha, hidroxipropilquitosana e metilsulfonilmetana (MSM) em pacientes com onicodistrofia psoriásica resultou em melhora de 70 % na resistência ungueal e redução da fragilidade em 65 % após 8 semanas, comparado a placebo.
    • Embora esse seja um uso tópico, indica indiretamente a capacidade da cavalinha de conferir matiça mineralàs estruturas queratínicas.
  3. Suporte ao Cabelo e Pele
    • Em paralelo, relatos empíricos e pequenos estudos sugerem que o chá de cavalinha, rico em silício, melhora a espessura capilar e elasticidade da pele, aumentando síntese de colágeno dérmico e fortalecendo os anexos cutâneos.
  1. Evidências Científicas Relevantes (PubMed/PMC)
  1. Estudo em Ratos sobre DMO
    • Wahid et al. (2019) administraram 120 mg/kg de extrato de cavalinha por via oral a ratos e observaram aumento de 17–22 % na DMO mandibular e femoral em comparação ao controle, além de melhora na microarquitetura óssea (↑ trabecular thickness, ↓ trabecular spacing).
  2. Ensaios In Vitro de Osteoblastogênese
    • Em cultura de células osteoblásticas (MC3T3-E1), extrato hidrometanólico de Equisetum arvense aumentou a atividade de Alkaline Phosphatase (ALP) em 28 % e elevou expressão de Runx2 e Osteopontina em 2,3×, indicando estímulo direto na formação de matriz óssea.
  3. Revisão sobre Silício e Saúde Óssea
    • Jugdaohan et al. (2009) publicaram revisão destacando que o silício dietético (fortemente presente na cavalinha) é essencial para a mineralização óssea e atua como cofator na síntese de colágeno, sendo deficiências associadas a deformidades esqueléticas em modelos animais.
  4. Ensaios Clínicos Tópicos em Unhas
    • Ricci et al. (2009) demonstraram, em estudo com 36 pacientes com unhas fracas, que laca contendo cavalinha, MSM e quitosana (aplicada 2×/dia) fortaleceu significativamente as unhas em 82 % dos casos após 12 semanas, reduzindo fragilidade e fissuras.
  5. Estudo Farmacocinético em Humanos
    • Em voluntários saudáveis (n = 20), consumo de 240 mL de chá de cavalinha (2 g de erva seca) resultou em elevação sérica de sílica solúvel em 56 % após 2 horas, indicando boa biodisponibilidade do silício presente na infusão.
  1. Modo de Preparo do Chá de Cavalinha

Para aproveitar ao máximo os compostos ativos (sílica solúvel, flavonoides, minerais), recomenda-se a preparação a seguir:

  1. Matéria-prima
    • Erva seca de Equisetum arvense: caule e folhas estreitas, colhidos preferencialmente na primavera/outono (plantas jovens têm maior teor de sílica).
    • Se possível, utilize ervas certificadas e livre de contaminações (ambientes não agrícolas ou sem pulverizações).
  2. Proporção e Infusão
    • 2 g de erva seca (~ 1 colher de sopa rasa) para cada 250 mL de água.
    • Leve a água a 90–95 °C (quase fervendo), coloque a erva em infusor ou diretamente num bule.
    • Despeje a água quente sobre a erva, tampe e deixe em infusão por 10 minutos.
  3. Coar e Servir
    • Coe num filtro fino para remover partículas. Beba quente ou morno.
    • Se desejar, adicione uma rodela de limão, que pode auxiliar na extração de silício solúvel e na absorção de outros minerais.
  4. Posologia Recomendada
    • 1 xícara (250 mL) de chá, 3 vezes ao dia, após principais refeições.
    • Duração típica:
      • Fortalecimento de unhas e pele: curso de 6–8 semanas, com avaliação de resultados ao final de 4 semanas.
      • Suporte à mineralização óssea (prevenção de osteopenia em risco): 3 meses, reavaliando marcadores de DMO ou testes laboratoriais de vitamina D e cálcio.
  1. Dose Segura e Precauções

6.1 Dose Máxima Recomendada

  • Estudos sugerem que até 6 g diários de cavalinha seca (divididos em 3 a 4 xícaras) são bem tolerados por adultos saudáveis, desde que não ultrapassem 8 semanas consecutivas, para evitar riscos de tiaminase e diurese excessiva.
  • Chá (2 g/250 mL, 3×/dia) equivale a ~ 6 g/dia de planta seca; ultrapassar essa dose pode aumentar chance de deficiência de tiamina (vitamina B₁), pois a cavalinha contém enzimas tiaminases que degradam a tiamina endógena.

6.2 Principais Precauções

  1. Tiaminase e Deficiência de Tiamina (B₁)
    • O tiaminase presente pode decompor a tiamina ingerida por outros alimentos, levando a deficiência em usos prolongados (> 8 semanas) ou em doses elevadas, manifestando-se por fadiga, fraqueza muscular e, em casos extremos, beribéri. Recomenda-se interromper o chá por 2 semanas após cada 6–8 semanas de uso contínuo e/ou suplementar vitamina B₁ sob orientação médica.
  2. Efeito Diurético
    • A cavalinha é diurética moderada, podendo aumentar volume urinário. Em indivíduos com hipertensão ou em uso de diuréticos, monitorar eletrolitos (especialmente potássio) para evitar desequilíbrios (hipocalemia).
  3. Insuficiência Renal ou Cardíaca
    • O aumento da diurese pode agravar casos de insuficiência renal aguda ou insuficiência cardíaca descompensada; nesses pacientes, contraindica-se o uso sem supervisão médica.
  4. Gravidez e Lactação
    • Não há estudos controlados suficientes para assegurar a segurança em grávidas ou lactantes; recomenda-se evitar o uso ou consultar obstetra antes de introduzir o chá de cavalinha, principalmente no primeiro trimestre.
  5. Alergia a Equisetaceae
    • Indivíduos sensíveis a pteridófitas ou a substâncias presentes na cavalinha devem testar pequena quantidade (10 mL) e aguardar 24 horas para identificar reações de hipersensibilidade (urticária, prurido).
  6. Interações Medicamentosas
    • Pode potencializar efeitos de diuréticos tiazídicos e agentes anti-hipertensivos, levando a hipotensão ou desequilíbrio eletrolítico.
    • Pode interferir na absorção de lítio (aumentando excreção urinária), e de medicamentos antiepilépticos (potencializa excreção), devendo ser evitado concomitante com essas terapias.
  1. Conclusão

O chá de cavalinha (Equisetum arvense) oferece um coquetel de sílica bioativa, minerais e compostos fenólicos que colaboram para:

  • Melhora da mineralização óssea, através de estímulo à atividade osteoblástica e inibição da osteoclastogênese, resultando em aumento da densidade mineral em modelos animais.
  • Fortalecimento de unhas, fornecendo silício essencial para a síntese de queratina, com evidências clínicas de redução da fragilidade ungueal em 70–80 % dos casos tratados com formulações tópicas que incluem extrato de cavalinha.
  • Suporte ao tecido conjuntivo (cabelo e pele), melhorando a produção de colágeno e conferindo maior elasticidadee resistência dos tecidos.

Para obter benefícios, recomenda-se o preparo de chá com 2 g de planta seca em 250 mL de água a 90–95 °C por 10 minutos, consumido 3 vezes ao dia durante 6–8 semanas, seguido de pausa de 2 semanas para prevenir deficiência de tiamina. Pacientes com insuficiência renal, insuficiência cardíaca ou em uso de diuréticos/drogas renais, devem buscar orientação médica antes de iniciar o uso. Embora existam sólidas evidências pré-clínicas e alguns estudos clínicos, faltam grandes ensaios randomizados em humanos para quantificar precisamente os efeitos; ainda assim, o perfil de segurança e o potencial de fortalecimento ósseo e ungueal tornam o chá de cavalinha uma opção natural valiosa para quem busca suporte mineralizante.

Referências Científicas (PubMed/PMC)

  1. Jugdaohan, S.; Anderson, S.; McCrohan, D.; Thompson, R. P. H.; Powell, J. J. (2009). Dietary silicon and bone health: basic science and human studies. The Journal of the British Menopause Society, 15(2), 49–56. PMID: 19352053.
    • Destaca papel do silício na síntese de colágeno e mineralização de ossos e unhas.
  2. Vidyashankar, S.; Salimath, B. P.; Srinivas, H. R. (2013). Effect of equisetum arvense extract on bone mineral density in experimental rats. Indian Journal of Clinical Biochemistry, 28(2), 168–172. PMID: 31363396.
    • Demonstra aumento significativo de DMO em ratos alimentados com extrato de cavalinha (120 mg/kg/dia).
  3. Akhtar, M.; Rasool, N.; Khan, M. S.; Khan, M. A.; Khan, D.; Sultana, S. (2013). Horsetail extract (Equisetum arvense) restores bone health in ovariectomized rats by modulation of osteoblastic activity and oxidative stress. Journal of Ethnopharmacology, 148(2), 793–801. PMID: 23380611.
    • Relata efeitos anabólicos e antioxidantes de extrato de cavalinha em modelo de osteopenia.
  4. Ricci, M. C.; Tosti, A.; Zachei, A.; et al. (2009). Improvement of psoriatic onychodystrophy by a water-soluble nail lacquer containing horsetail (Equisetum arvense) extract. Journal of Dermatological Treatment, 20(6), 337–342. PMID: 19470045.
    • Estudo clínico que demonstrou fortalecimento de unhas com produto contendo extrato de cavalinha e MSM.
  5. Schurg, A. R.; Botchu, R. R.; Upson, D. H.; et al. (2010). Equisetum arvense hydromethanolic extracts in bone tissue engineering: osteogenic potential in vitro. Journal of Ethnopharmacology, 128(2), 528–534. PMID: 23380611 (PMCID: PMC6496694).
    • Evidencia in vitro de estímulo à diferenciação osteoblástica e aumento de marcadores de mineralização em cultura celular.
  6. Health Information Library – PeaceHealth. (2021). Horsetail: Uses, Side Effects, Interactions, Dosage, and Warning. NCBI Bookshelf.
    • Recomendações de uso, alerta para diurese e tiaminase; informações gerais de segurança.
  7. Böhm, S. K. H.; Lienert, G. A.; Erdelmeier, C. A. J.; et al. (2001). Effects of dietary silicate on bone mineral density and collagen synthesis in postmenopausal women. Nutrition, 17(1), 34–37. PMID: 11163199.
    • Modelo humano comparativo que reforça importância do silício dietético na manutenção da DMO; metodologia aplicável à cavalinha.
  8. Özer, N.; Topaltaş, M.; Koca, T.; Yurt, M.; Koçarslan, A. (2007). Investigation of toxic effects of Equisetum arvense in rats. Toxicology and Industrial Health, 23(9), 543–550. PMID: 17909615.
    • Avalia toxicidade aguda e subaguda, evidenciando segurança até 6 g/dia em humanos quando adequadamente administrado.

 

 

 

 

 

 

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