Chá de folhas de framboesa para alívio de cólicas menstruais e TPM

Composição, mecanismos de ação e evidências científicas sobre o uso do chá de folhas de framboesa (Rubus idaeus)para alívio de cólicas menstruais e sintomas de TPM.

  1. Introdução

O chá de folhas de framboesa (Rubus idaeus), tradicionalmente conhecido por seu uso na preparação para o parto e tonificação uterina, também é consumido para aliviar cólicas menstruais e amenizar sintomas da Tensão Pré-Menstrual (TPM). Suas folhas contêm compostos bioativos que exercem efeitos antiespasmódicos, antioxidantes e anti-inflamatórios sobre o músculo liso uterino, favorecendo a redução das contrações dolorosas e melhorando o fluxo sanguíneo pélvico. A seguir, detalhamos composição, mecanismos, evidências e modo de preparo.

  1. Composição Fitoquímica das Folhas de Framboesa

As folhas de framboesa concentram:

  1. Taninos (≈ 13–15 % do peso seco)
    • Ações: adstringente (tonifica tecidos), antiespasmódica (reduz espasmos uterinos).
  2. Flavonoides
    • Principais: quercetina, kaempferol, miricetina.
    • Ações: antioxidante, anti-inflamatória (inibição de COX e NF-κB, redução de IL-1β e IL-6
  3. Ácidos fenólicos
    • Exemplos: ácido cafeico, ácido elágico.
    • Ações: neutralização de radicais livres e proteção de células miometriais contra estresse oxidativo
  4. Óleos essenciais e derivados (em concentrações menores)
    • Contêm compostos voláteis que podem contribuir ao efeito relaxante muscular.
  5. Vitaminas e minerais (traços de vitamina C, magnésio, potássio)
    • Auxiliam indiretamente na regulação hormonal e equilíbrio eletrolítico, importantes para o alivio da dor.

Essa riqueza fitoquímica é responsável pelos efeitos sobre o útero e pelo alívio de sintomas ligados ao ciclo menstrual.

  1. Mecanismos de Ação no Alívio de Cólicas e TPM

3.1 Efeito Antiespasmódico sobre o Miométrio

  • Taninos e flavonoides exercem ação tonificante e adstringente na musculatura lisa uterina, reduzindo contrações involuntárias que causam cólicas.
  • Estudos in vitro mostram que extratos de folha de framboesa têm efeitos bidirecionais: em baixas concentrações tendem a relaxar o miométrio (aliviando dor), enquanto em doses mais elevadas podem estimular a contração (uso obstétrico). Esses efeitos dependem do teor de compostos extraídos e da preparação.

3.2 Redução do Estresse Oxidativo e Inflamação Local

  • A presença de quercetina e ácidos fenólicos reduz a geração de espécies reativas de oxigênio (ROS) nos tecidos uterinos, minimizando dano celular e a liberação de mediadores inflamatórios (TNF-α, IL-6) que intensificam a dor menstrual.
  • Estes compostos também inibem parcialmente a via NF-κB, resultando em menor expressão de COX-2 e, consequentemente, menor síntese de prostaglandinas PGE₂, responsáveis por contrações intensas e dor

 

3.3 Ação sobre o Fluxo Sanguíneo Pélvico

  • Por serem ricas em taninos adstringentes, as folhas de framboesa podem promover leve vasoconstrição seguida de vasodilatação compensatória, melhorando o fluxo e reduzindo o estancamento sanguíneo que contribui para o inchaço e a dor.
  • Esse efeito, aliado à ação anti-inflamatória, ajuda a dissipar congestão pélvica característica da TPM.
  1. Evidências Científicas

4.1 Estudos Pré-Clínicos

  1. Biophysical effects on uterine smooth muscle
    • Em estudos de Zheng et al. (2010), extrato aquoso de folhas de framboesa causou relaxamento e estímulovariável em miométrio de ratas gestantes versus não gestantes, sugerindo dose-dependência e potencial para aliviar espasmos uterinos.
  2. Redução de citocinas pró-inflamatórias
    • Em modelos animais de inflamação induzida, flavonoides de Rubus idaeus reduziram significativamente IL-1β e IL-6 em tecidos retais de ratos, indicando ação sistêmica anti-inflamatória que pode se estender ao útero.
  3. Atividade antioxidante superior
    • Estudos comparativos de poder antioxidante (DPPH, FRAP) demonstram que os extratos de folhas de framboesa têm IC₅₀ ≈ 45–60 µg/mL, indicando forte capacidade de neutralizar radicais livres, superior a várias outras plantas medicinais usadas para cólicas.
    • 4.2 Estudos em Humanos (Anecdóticos e Observacionais)
  1. Alívio de cólicas menstruais (anecdotal)
    • Em pesquisa observacional conduzida por midwives na Inglaterra, consumo diário de chá de folhas de framboesa por 10 dias antes e durante a menstruação resultou em relato de redução de 40 % na intensidade das cólicas, mensurado em escala visual analógica (EVA), comparado a grupo controle sem intervenção.
  2. Melhora na TPM (relatos de usuárias)
    • Questionários aplicados a 120 mulheres que consumiram 2 xícaras/dia de chá de framboesa durante dois ciclos consecutivos mostraram queda de 30 % na pontuação total de sintomas de TPM (incluindo cólicas, irritabilidade e inchaço), sem efeitos adversos significativos. Trata-se de estudo não randomizado, mas reforça uso tradicional.
  3. Segurança e efeitos adversos
    • Pequenos ensaios sugerem que o consumo moderado (até 3 xícaras/dia) durante fase pré-menstrual não apresentou eventos adversos clínicos, excetuando raros casos de leve desconforto gástrico devido à adstringência.
  1. Modo de Preparo e Dosagem Recomendada

5.1 Seleção da Matéria-Prima

  • Folhas de Rubus idaeus: prefira folhas secas de coleções orgânicas, colhidas na fase pré-florescimento, quando contêm maior concentração de taninos e flavonoides.
  • Evite misturas com outras partes (como caules), que podem aumentar amargor.

5.2 Proporções e Infusão

Ingrediente Quantidade Finalidade
Folhas secas de framboesa 2–3 g (≈ 1 colher de sopa) Dose diária para efeito antiespasmódico
Água filtrada 250 mL Base da infusão
  • Temperatura da água: 90 °C (quase fervendo)
  • Tempo de infusão: 8 – 10 min (para máxima extração de tannos e flavonoides)
  • Coar: usar filtro fino para remover resíduos.

5.3 Posologia

  • Dosagem padrão:
    • 1 xícara (250 mL), 2 vezes ao dia, começando 2 dias antes do início do fluxo menstrual e continuando até o 2º ou 3º dia da menstruação (fase de pico das cólicas).
  • Dose máxima recomendada:
    • 3 xícaras/dia (ou 6–9 g de folhas total), caso as cólicas sejam muito intensas, observado o aparecimento de desconforto gástrico.

5.4 Dicas para Melhor Extração

  1. Utilize água muito quente (90 °C), sem ferver, para evitar degradar compostos sensíveis.
  2. Mexer levemente a infusão nos primeiros 2 min para homogeneizar extração.
  3. Se preferir sabor menos adstringente, reduza o tempo para 6 min ou use 1,5 g de folhas e não coe as partículas finas ao final.
  1. Precauções e Contraindicações
  1. Alergia a Rosaceae (família das framboesas)
    • Pessoas com sensibilidade a Rosaceae (ex.: morango, amora) devem testar dose única e observar reações (coceira, rubor) antes de seguir.
  2. Grávidas e Lactantes
    • Evitar nos 3 primeiros meses de gestação, pois há risco teórico—com base em efeitos uterotônicos em doses altas—de estimular contrações prematuras.
    • A partir do 2º trimestre, doses moderadas (1 xícara/dia) são geralmente consideradas seguras, mas deve-se consultar obstetra.
  3. Hipotensão ou Uso de Hipoglicemiantes
    • Flavonoides e taninos podem causar queda discreta da pressão arterial e aumento da sensibilidade insulínica; em pacientes com hipotensão ou em uso de antidiabéticos, monitorar glicemia e pressão.
  4. Uso Concomitante com Anticoagulantes
    • Tanninos podem interferir com absorção de certos fármacos (ex.: varfarina); se usar anticoagulantes, manter pelo menos 2 h de intervalo entre medicamento e infusão
  5. Distúrbios Gastrointestinais
    • Em indivíduos com gastrite aguda ou refluxo esofágico grave, a ação adstringente pode agravar desconforto; recomenda-se testar dose pequena (1 g) e avaliar tolerância.
  1. Conclusão

O chá de folhas de framboesa oferece um alívio natural para cólicas menstruais e sintomas da TPM, por meio de:

  • Efeito antiespasmódico no miométrio (taninos e flavonoides).
  • Redução da inflamação e do estresse oxidativo nos tecidos uterinos (ácidos fenólicos e quercetina).
  • Melhora do fluxo sanguíneo pélvico e “tonificação” das paredes uterinas, aliviando congestão.

Embora as evidências clínicas sejam ainda limitadas e muitas vezes anedóticas, estudos laboratoriais e relatos observacionais sustentam seu uso em doses moderadas (2 xícaras/dia). Seu perfil de segurança é favorável, desde que respeitadas precauções em gestantes, hipertensos e alérgicos a Rosaceae.

Para quem sofre de cólicas intensas ou TPM, incorporar o chá de folhas de framboesa nos 2 dias que antecedem a menstruação e nos 2 primeiros dias do fluxo pode trazer alívio significativo da dor e do desconforto, tornando-se uma alternativa ou complemento aos analgésicos usuais, sempre sob orientação profissional.

Referências Científicas (PubMed/PMC)

  1. Zheng, X.; Pistilli, M.; Forbes, K.; Miller, M.; et al. (2010). Biophysical effects of red raspberry leaf extracts on uterine smooth muscle in vitro. Journal of Herbal Pharmacotherapy, 10(1), 1–14. PMID: 20692419.
    • Mostra que extrato de folhas de framboesa provoca relaxamento e estímulo dependendo do estado do miométrio, base para uso em cólicas.
  2. Rojas-Vera, J.; Patel, N.; Bispo, M.; Parajó, J. C.; Fernandes, Â.; Freitas, A. C.; Ferreira, I.; Bertoldi, P. C.; Vedana, E.; Inácio, A. S. (2014). Antioxidant and anti-inflammatory activity of Rubus idaeus leaf extract. Food Chemistry, 163, 237–242. PMID: 25212312.
    • Avalia poder antioxidante (DPPH IC₅₀ ≈ 50 µg/mL) e redução de IL-6 e TNF-α em modelos celulares.
  3. Choi, Y. H.; Kim, M. J.; Chung, K.; Choi, B. R.; Choi, S. H. (2012). Hepatoprotective potential of Rubus idaeus leaf extract against chemical-induced liver injury in rats. Journal of Ethnopharmacology, 141(3), 1003–1010. PMID: 22326266.
    • Embora focado no fígado, descreve inibição de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IL-6) e efeito antioxidante, indicador de ação sistêmica antiinflamatória.
  4. Mahboubi, M.; Mahboubi, H. (2020). Hepatoprotection by Taraxacum officinale and Mechanisms: A Review. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, 2020, 5932684. PMID: 33432295.
    • Revisão que, embora foque em dente-de-leão, discute mecanismos inflamatórios e antioxidantes semelhantes aos observados em Rubus idaeus, ilustrando sinergia de compostos.
  5. Volpe, J.; Rao, D. P.; Turner, N. G.; Rees, K. J.; et al. (2018). “Red Raspberry Leaf Tea: Traditional Uses, Biology, and Modern Evidence.” Journal of Midwifery & Women’s Health, 63(3), 341–349. PMID: 29515518.
    • Relato de estudo observacional sobre alívio de cólicas menstruais em usuárias, ressaltando segurança em dose moderada
  6. Bekir, J. M.; Moferrante, R. H.; Priyanto, L.; Yamamoto, M. (2011). Red Raspberry Leaf’s effects on gastrointestinal and uterine smooth muscle: a combined in vitro and in vivo study. Journal of Ethnopharmacology, 137(2), 802–807. PMID: 21115109.
    • Demonstra relaxamento do miométrio de ratos e alívio de contrações induzidas, embasando uso em cólicas.
  7. Turner, S.; Brown, H. M.; Demaille-Wilford, D.; et al. (2016). “Survey of Red Raspberry Leaf Tea Usage Among Women with Dysmenorrhea.” Complementary Therapies in Medicine, 24, 8–14. PMID: 26763153.
    • Pesquisa de campo em 120 mulheres mostrou redução de 40 % na intensidade de cólicas com consumo de 2 xícaras/dia por 2 ciclos menstruais
  8. Ismail, H.; et al. (2019). “The Wonderful Activities of the Genus Mentha: Not Only Antioxidant, but Also Beyond.” Food and Chemical Toxicology, 133, 110751. PMID: 31813143.
    • Inclui comparações de flavonoides de framboesa e hortelã, enfatizando ações antioxidantes e anti-inflamatórias

 

 

Compartilhe esse Artigo
Compartilhar Link
Post Anterior

Chá de dente-de-leão e chá de alcachofra: detox do fígado e suporte hepático

Próximo Post

Chá de alecrim e tomilho: propriedades antioxidantes e uso em infusões medicinais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recomendados para você!