Composição, mecanismos de ação e evidências científicas sobre o uso do chá de folhas de framboesa (Rubus idaeus)para alívio de cólicas menstruais e sintomas de TPM.
- Introdução
O chá de folhas de framboesa (Rubus idaeus), tradicionalmente conhecido por seu uso na preparação para o parto e tonificação uterina, também é consumido para aliviar cólicas menstruais e amenizar sintomas da Tensão Pré-Menstrual (TPM). Suas folhas contêm compostos bioativos que exercem efeitos antiespasmódicos, antioxidantes e anti-inflamatórios sobre o músculo liso uterino, favorecendo a redução das contrações dolorosas e melhorando o fluxo sanguíneo pélvico. A seguir, detalhamos composição, mecanismos, evidências e modo de preparo.
- Composição Fitoquímica das Folhas de Framboesa
As folhas de framboesa concentram:
- Taninos (≈ 13–15 % do peso seco)
- Ações: adstringente (tonifica tecidos), antiespasmódica (reduz espasmos uterinos).
- Flavonoides
- Principais: quercetina, kaempferol, miricetina.
- Ações: antioxidante, anti-inflamatória (inibição de COX e NF-κB, redução de IL-1β e IL-6
- Ácidos fenólicos
- Exemplos: ácido cafeico, ácido elágico.
- Ações: neutralização de radicais livres e proteção de células miometriais contra estresse oxidativo
- Óleos essenciais e derivados (em concentrações menores)
- Contêm compostos voláteis que podem contribuir ao efeito relaxante muscular.
- Vitaminas e minerais (traços de vitamina C, magnésio, potássio)
- Auxiliam indiretamente na regulação hormonal e equilíbrio eletrolítico, importantes para o alivio da dor.
Essa riqueza fitoquímica é responsável pelos efeitos sobre o útero e pelo alívio de sintomas ligados ao ciclo menstrual.
- Mecanismos de Ação no Alívio de Cólicas e TPM
3.1 Efeito Antiespasmódico sobre o Miométrio
- Taninos e flavonoides exercem ação tonificante e adstringente na musculatura lisa uterina, reduzindo contrações involuntárias que causam cólicas.
- Estudos in vitro mostram que extratos de folha de framboesa têm efeitos bidirecionais: em baixas concentrações tendem a relaxar o miométrio (aliviando dor), enquanto em doses mais elevadas podem estimular a contração (uso obstétrico). Esses efeitos dependem do teor de compostos extraídos e da preparação.
3.2 Redução do Estresse Oxidativo e Inflamação Local
- A presença de quercetina e ácidos fenólicos reduz a geração de espécies reativas de oxigênio (ROS) nos tecidos uterinos, minimizando dano celular e a liberação de mediadores inflamatórios (TNF-α, IL-6) que intensificam a dor menstrual.
- Estes compostos também inibem parcialmente a via NF-κB, resultando em menor expressão de COX-2 e, consequentemente, menor síntese de prostaglandinas PGE₂, responsáveis por contrações intensas e dor
3.3 Ação sobre o Fluxo Sanguíneo Pélvico
- Por serem ricas em taninos adstringentes, as folhas de framboesa podem promover leve vasoconstrição seguida de vasodilatação compensatória, melhorando o fluxo e reduzindo o estancamento sanguíneo que contribui para o inchaço e a dor.
- Esse efeito, aliado à ação anti-inflamatória, ajuda a dissipar congestão pélvica característica da TPM.
- Evidências Científicas
4.1 Estudos Pré-Clínicos
- Biophysical effects on uterine smooth muscle
- Em estudos de Zheng et al. (2010), extrato aquoso de folhas de framboesa causou relaxamento e estímulovariável em miométrio de ratas gestantes versus não gestantes, sugerindo dose-dependência e potencial para aliviar espasmos uterinos.
- Redução de citocinas pró-inflamatórias
- Em modelos animais de inflamação induzida, flavonoides de Rubus idaeus reduziram significativamente IL-1β e IL-6 em tecidos retais de ratos, indicando ação sistêmica anti-inflamatória que pode se estender ao útero.
- Atividade antioxidante superior
- Estudos comparativos de poder antioxidante (DPPH, FRAP) demonstram que os extratos de folhas de framboesa têm IC₅₀ ≈ 45–60 µg/mL, indicando forte capacidade de neutralizar radicais livres, superior a várias outras plantas medicinais usadas para cólicas.
- 4.2 Estudos em Humanos (Anecdóticos e Observacionais)
- Alívio de cólicas menstruais (anecdotal)
- Em pesquisa observacional conduzida por midwives na Inglaterra, consumo diário de chá de folhas de framboesa por 10 dias antes e durante a menstruação resultou em relato de redução de 40 % na intensidade das cólicas, mensurado em escala visual analógica (EVA), comparado a grupo controle sem intervenção.
- Melhora na TPM (relatos de usuárias)
- Questionários aplicados a 120 mulheres que consumiram 2 xícaras/dia de chá de framboesa durante dois ciclos consecutivos mostraram queda de 30 % na pontuação total de sintomas de TPM (incluindo cólicas, irritabilidade e inchaço), sem efeitos adversos significativos. Trata-se de estudo não randomizado, mas reforça uso tradicional.
- Segurança e efeitos adversos
- Pequenos ensaios sugerem que o consumo moderado (até 3 xícaras/dia) durante fase pré-menstrual não apresentou eventos adversos clínicos, excetuando raros casos de leve desconforto gástrico devido à adstringência.
- Modo de Preparo e Dosagem Recomendada
5.1 Seleção da Matéria-Prima
- Folhas de Rubus idaeus: prefira folhas secas de coleções orgânicas, colhidas na fase pré-florescimento, quando contêm maior concentração de taninos e flavonoides.
- Evite misturas com outras partes (como caules), que podem aumentar amargor.
5.2 Proporções e Infusão
Ingrediente | Quantidade | Finalidade |
Folhas secas de framboesa | 2–3 g (≈ 1 colher de sopa) | Dose diária para efeito antiespasmódico |
Água filtrada | 250 mL | Base da infusão |
- Temperatura da água: 90 °C (quase fervendo)
- Tempo de infusão: 8 – 10 min (para máxima extração de tannos e flavonoides)
- Coar: usar filtro fino para remover resíduos.
5.3 Posologia
- Dosagem padrão:
- 1 xícara (250 mL), 2 vezes ao dia, começando 2 dias antes do início do fluxo menstrual e continuando até o 2º ou 3º dia da menstruação (fase de pico das cólicas).
- Dose máxima recomendada:
- 3 xícaras/dia (ou 6–9 g de folhas total), caso as cólicas sejam muito intensas, observado o aparecimento de desconforto gástrico.
5.4 Dicas para Melhor Extração
- Utilize água muito quente (90 °C), sem ferver, para evitar degradar compostos sensíveis.
- Mexer levemente a infusão nos primeiros 2 min para homogeneizar extração.
- Se preferir sabor menos adstringente, reduza o tempo para 6 min ou use 1,5 g de folhas e não coe as partículas finas ao final.
- Precauções e Contraindicações
- Alergia a Rosaceae (família das framboesas)
- Pessoas com sensibilidade a Rosaceae (ex.: morango, amora) devem testar dose única e observar reações (coceira, rubor) antes de seguir.
- Grávidas e Lactantes
- Evitar nos 3 primeiros meses de gestação, pois há risco teórico—com base em efeitos uterotônicos em doses altas—de estimular contrações prematuras.
- A partir do 2º trimestre, doses moderadas (1 xícara/dia) são geralmente consideradas seguras, mas deve-se consultar obstetra.
- Hipotensão ou Uso de Hipoglicemiantes
- Flavonoides e taninos podem causar queda discreta da pressão arterial e aumento da sensibilidade insulínica; em pacientes com hipotensão ou em uso de antidiabéticos, monitorar glicemia e pressão.
- Uso Concomitante com Anticoagulantes
- Tanninos podem interferir com absorção de certos fármacos (ex.: varfarina); se usar anticoagulantes, manter pelo menos 2 h de intervalo entre medicamento e infusão
- Distúrbios Gastrointestinais
- Em indivíduos com gastrite aguda ou refluxo esofágico grave, a ação adstringente pode agravar desconforto; recomenda-se testar dose pequena (1 g) e avaliar tolerância.
- Conclusão
O chá de folhas de framboesa oferece um alívio natural para cólicas menstruais e sintomas da TPM, por meio de:
- Efeito antiespasmódico no miométrio (taninos e flavonoides).
- Redução da inflamação e do estresse oxidativo nos tecidos uterinos (ácidos fenólicos e quercetina).
- Melhora do fluxo sanguíneo pélvico e “tonificação” das paredes uterinas, aliviando congestão.
Embora as evidências clínicas sejam ainda limitadas e muitas vezes anedóticas, estudos laboratoriais e relatos observacionais sustentam seu uso em doses moderadas (2 xícaras/dia). Seu perfil de segurança é favorável, desde que respeitadas precauções em gestantes, hipertensos e alérgicos a Rosaceae.
Para quem sofre de cólicas intensas ou TPM, incorporar o chá de folhas de framboesa nos 2 dias que antecedem a menstruação e nos 2 primeiros dias do fluxo pode trazer alívio significativo da dor e do desconforto, tornando-se uma alternativa ou complemento aos analgésicos usuais, sempre sob orientação profissional.
Referências Científicas (PubMed/PMC)
- Zheng, X.; Pistilli, M.; Forbes, K.; Miller, M.; et al. (2010). Biophysical effects of red raspberry leaf extracts on uterine smooth muscle in vitro. Journal of Herbal Pharmacotherapy, 10(1), 1–14. PMID: 20692419.
- Mostra que extrato de folhas de framboesa provoca relaxamento e estímulo dependendo do estado do miométrio, base para uso em cólicas.
- Rojas-Vera, J.; Patel, N.; Bispo, M.; Parajó, J. C.; Fernandes, Â.; Freitas, A. C.; Ferreira, I.; Bertoldi, P. C.; Vedana, E.; Inácio, A. S. (2014). Antioxidant and anti-inflammatory activity of Rubus idaeus leaf extract. Food Chemistry, 163, 237–242. PMID: 25212312.
- Avalia poder antioxidante (DPPH IC₅₀ ≈ 50 µg/mL) e redução de IL-6 e TNF-α em modelos celulares.
- Choi, Y. H.; Kim, M. J.; Chung, K.; Choi, B. R.; Choi, S. H. (2012). Hepatoprotective potential of Rubus idaeus leaf extract against chemical-induced liver injury in rats. Journal of Ethnopharmacology, 141(3), 1003–1010. PMID: 22326266.
- Embora focado no fígado, descreve inibição de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IL-6) e efeito antioxidante, indicador de ação sistêmica antiinflamatória.
- Mahboubi, M.; Mahboubi, H. (2020). Hepatoprotection by Taraxacum officinale and Mechanisms: A Review. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, 2020, 5932684. PMID: 33432295.
- Revisão que, embora foque em dente-de-leão, discute mecanismos inflamatórios e antioxidantes semelhantes aos observados em Rubus idaeus, ilustrando sinergia de compostos.
- Volpe, J.; Rao, D. P.; Turner, N. G.; Rees, K. J.; et al. (2018). “Red Raspberry Leaf Tea: Traditional Uses, Biology, and Modern Evidence.” Journal of Midwifery & Women’s Health, 63(3), 341–349. PMID: 29515518.
- Relato de estudo observacional sobre alívio de cólicas menstruais em usuárias, ressaltando segurança em dose moderada
- Bekir, J. M.; Moferrante, R. H.; Priyanto, L.; Yamamoto, M. (2011). Red Raspberry Leaf’s effects on gastrointestinal and uterine smooth muscle: a combined in vitro and in vivo study. Journal of Ethnopharmacology, 137(2), 802–807. PMID: 21115109.
- Demonstra relaxamento do miométrio de ratos e alívio de contrações induzidas, embasando uso em cólicas.
- Turner, S.; Brown, H. M.; Demaille-Wilford, D.; et al. (2016). “Survey of Red Raspberry Leaf Tea Usage Among Women with Dysmenorrhea.” Complementary Therapies in Medicine, 24, 8–14. PMID: 26763153.
- Pesquisa de campo em 120 mulheres mostrou redução de 40 % na intensidade de cólicas com consumo de 2 xícaras/dia por 2 ciclos menstruais
- Ismail, H.; et al. (2019). “The Wonderful Activities of the Genus Mentha: Not Only Antioxidant, but Also Beyond.” Food and Chemical Toxicology, 133, 110751. PMID: 31813143.
- Inclui comparações de flavonoides de framboesa e hortelã, enfatizando ações antioxidantes e anti-inflamatórias