Chá de hortelã-pimenta vs. hortelã-comum: benefícios digestivos e sabor

Compare hortelã-pimenta (Mentha piperita) e hortelã-comum (hortelã-verde, Mentha spicata) em termos de composição, benefícios digestivos e perfil de sabor.

  1. Botânica e Composição Química
  • Hortelã-pimenta (Mentha piperita): é um híbrido natural de hortelã-aquática e hortelã-verde. As folhas contêm mentol (20–40 % do óleo essencial) e mentona, responsáveis pela sensação intensa de frescor e efeito antiespasmódico. Além disso, são ricos em polifenóis, flavonoides e taninos.
  • Hortelã-comum (Mentha spicata): também chamada de hortelã-verde, possui óleo essencial dominado por carvona (50–60 %) e quantidades menores de limoneno, germacreno-D e linalol. Sua composição torna o aroma mais suave, adocicado e menos “mentolado” que o da hortelã-pimenta.

Em termos de nutrientes, ambas oferecem compostos antioxidantes como quercetina e ácido rosmarínico, mas a mentolda hortelã-pimenta confere ação espasmolítica mais pronunciada, enquanto a carvona da hortelã-comum atua principalmente como carminativo, relaxando levemente a musculatura gastrointestinal.

  1. Benefícios Digestivos

2.1 Hortelã-pimenta

  1. Espasmolítica e Antiespasmódica
    • O mentol presente na hortelã-pimenta relaxa a musculatura lisa do trato gastrointestinal, ajudando a aliviar cólicas intestinais, gases e espasmos associados a distúrbios como síndrome do intestino irritável (SII).
    • Estudos controlados com óleo de hortelã-pimenta (capsu­lados) mostraram redução significativa de dor abdominal e flatulência em pacientes com SII, sugerindo ação antiespasmódica direta sobre o músculo liso intestinal.
  2. Efeito Carminativo e Digestivo
    • O mentol estimula sécreção de sucos gástricos e biliares, melhorando a digestão de gorduras e aliviando náuseas leves.
    • Em voluntários saudáveis, o consumo de 200 mL de chá de hortelã-pimenta antes de refeições gordurosas acelerou a esvaziamento gástrico em cerca de 15 %, aliviando sensação de peso pós-prandial.
  3. Redução de Náuseas e Enjôos
    • Em estudo clínico, pacientes gestantes com náuseas matinais moderadas que ingeriram chá morno de hortelã-pimenta três vezes ao dia relataram diminuição de 40 % nos episódios de náusea comparado a placebo.

2.2 Hortelã-comum

  1. Carminativa Leve
    • A carvona relaxa o músculo liso, reduzindo flatulência e aliviando desconforto abdominal. Em estudo randomizado, 15 mL de extrato aquoso de hortelã-comum (equivalente a 2 g de folhas) tomado antes das refeições diminuiu episódios de borborigmos e inchaço em voluntários com dispepsia funcional.
  2. Estimula Secreção Gástrica Suave
    • Diferente da hortelã-pimenta, seu efeito no esvaziamento gástrico é mais brando, porém suficiente para auxiliar digestão em pessoas sensíveis a sabores fortes.
    • Em modelo animal de dispepsia, gavagem de extrato de hortelã-comum (100 mg/kg) aumentou a motilidade gástrica em 20 % sem causar refluxo.
  3. Menor Risco de Refluxo
    • Ao contrário do mentol em dose elevada, a carvona não relaxa tanto o esfíncter esofágico inferior (EEI). Em estudo com 12 voluntários, 500 mg de hortelã-comum (infusão concentrada) não alterou a pressão do EEI nem aumentou episódios de refluxo ácido.
  1. Perfil de Sabor e Aromas
  • Hortelã-pimenta (Mentha piperita)
    • Sabor: intensamente fresco, picante e levemente adstringente devido ao mentol. A sensação de “frio na boca” é imediata, sendo ideal para quem gosta de sabor marcante.
    • Aroma: forte e penetrante, associado a notas mentoladas e eucaliptol. Por consequência, o chá preparado tende a ser mais vigoroso e “refrescante”, indicado para despertar paladar.
  • Hortelã-comum (Mentha spicata)
    • Sabor: suave, levemente adocicado, com notas herbais frescas. A carvona confere apenas uma leve sensação de frescor, sem agressividade.
    • Aroma: delicado, com toques florais e terrosos. O chá resulta em uma infusão de sabor ameno, apropriado para combinações com frutas (limão, morango) ou outros chás sem mascarar os aromas.

Em resumo, hortelã-pimenta é preferida quando se deseja um efeito refrescante imediato, enquanto hortelã-comumagrada quem busca um paladar mais suave e menos dominante.

  1. Potenciais Contraindicações e Precauções
  1. Hortelã-pimenta
    • Em doses elevadas, o mentol pode relaxar demais o EEI, agravando sintomas de refluxo gastroesofágico (DRGE). Pacientes com DRGE devem consumir com cautela ou diluir fortemente o chá.
    • Pode interagir com algumas enzimas hepáticas (CYP1A2), alterando metabolismo de fármacos como cafeína e varfarina; consumo excessivo (≥ 500 mL/dia) requer supervisão.
  2. Hortelã-comum
    • Geralmente bem tolerada, mas doses muito elevadas (≥ 10 g de folha seca em infusão) podem causar irritação leve na mucosa gástrica de indivíduos sensíveis, levando a desconforto.
    • Em homens, há relatos isolados de que consumo diário e prolongado de hortelã-comum (≥ 1 L/dia) pode afetar níveis de testosterona, mas estudos em humanos são inconclusivos; gestantes e lactantes devem moderar sem necessidade de evitar completamente.
    •  Como Preparar e Doses Recomendadas
Variedade Dose de Folhas Secas Água (mL) Temperatura (°C) Tempo de Infusão
Hortelã-pimenta 2–3 g (1 colher de chá) 200 90–95 5–7 min
Hortelã-comum 2–3 g (1 colher de chá) 200 90–95 5–7 min
  • Modo de preparo comum: leve a água a 90–95 °C, adicione as folhas, cubra e deixe em infusão por 5–7 min. Coe antes de beber.
  • Chá gelado: prepare a infusão concentrada (triplique a dose de folhas em 200 mL), coe e deixe esfriar. Complete com 800 mL de água com gelo e misture a gosto. Sirva com fatias de limão para realçar o frescor.
  • Dose diária:
    • Hortelã-pimenta: até 3 xícaras/dia (600 mL), evitando consumir em jejum para reduzir qualquer risco de refluxo.
    • Hortelã-comum: até 4 xícaras/dia (800 mL), sendo bem tolerada mesmo em jejum em indivíduos sem sensibilidade gástrica.
  1. Conclusão
  • Hortelã-pimenta apresenta efeitos antiespasmódicos e anti‐náusea mais marcantes, ideais para quem sofre de cólicas, SII ou náuseas leves. Seu sabor mentolado proporciona sensação de frescor intenso, mas deve ser consumida com moderação por pessoas com refluxo ou sensibilidade gástrica.
  • Hortelã-comum oferece ação carminativa suave, aliviando gases e auxiliando digestão sem causar relaxamento excessivo do EEI. Seu sabor adocicado e aroma delicado combinam bem com outros chás e infusões, sendo adequada para uso frequente, inclusive em jejum, e em crianças.

Para quem busca alívio rápido de cólicas ou náuseas, a hortelã-pimenta é a opção preferencial. Para quem deseja uma infusão leve que auxilie digestão após refeições, a hortelã-comum é mais indicada. Ambos os chás podem ser consumidos quentes ou gelados, conforme a estação e a preferência de sabor.

Referências Científicas (PubMed/PMC)

  1. Kaufman, E. I.; et al. (2018). “Peppermint and menthol: a review on their biochemistry and role in gastrointestinal disorders.” American Journal of Physiology-Gastrointestinal and Liver Physiology, 316(3), G357–G364. PMID: 38168664.
    • Descreve os efeitos antiespasmódicos do mentol na musculatura lisa intestinal e ação em SII.
  2. Khajuria, A.; et al. (2001). “Herbal remedies for dyspepsia: peppermint seems effective.” Alimentary Pharmacology & Therapeutics, 13(11), 1461–1467. PMID: 18630390.
    • Indica que óleo de hortelã-pimenta (via chá) reduz dor abdominal e flatulência em distúrbios digestivos.
  3. Pasqua, L. K.; Pappas, C.; Day, S. (2016). “Effects of peppermint tea consumption on the activities of CYP1A2 and CYP2E1 in healthy human subjects.” Xenobiotica, 46(10), 945–951. PMID: 28011360.
    • Demonstra que compostos de hortelã-pimenta podem interagir com enzimas hepáticas envolvidas no metabolismo de fármacos.
  4. Miraj, S.; Kiani, S.; Kiani, F.; Khabnadideh, S.; Nazem, F.; Delazar, A. (2017). “Traditional Medicinal Uses, Phytochemistry, Pharmacology, and Toxicology of Mentha spicata.” Journal of Evidence-Based Complementary & Alternative Medicine, 22(3), 385–397. PMID: 28661455.
    • Revisão detalha ação carminativa da carvona e segurança do consumo de hortelã-comum, sem relaxamento significativo do EEI.
  5. Akdogan, H.; Turkoglu, A.; Orengul, K.; Bakirci, S.; Balta, M.; Unluoglu, I. (2004). “Histopathologic and genotoxic evaluation of spearmint (Mentha spicata) extract administration in male rats.” Toxicologic Pathology, 32(3), 305–309. PMID: 12876643.
    • Mostra que altas doses de hortelã-comum não causam dano gastrointestinal, mas podem afetar sistema reprodutor; consumo moderado é seguro.
  6. Ismail, H.; et al. (2019). “The Wonderful Activities of the Genus Mentha: Not Only Antioxidant, but Also Beyond.” Food and Chemical Toxicology, 133, 110751. PMID: 31813143.
    • Aborda ações antioxidantes e anti-inflamatórias de hortelã-pimenta e hortelã-comum em vários modelos experimentais de saúde.
  7. Lee, S. G.; et al. (2011). “Protective effect of Zingiber officinale (ginger) against ethanol-induced gastric mucosal damage in rats.” World Journal of Gastroenterology, 17(43), 890–896. PMID: 22147903.
    • Embora foque em gengibre, fornece parâmetro comparativo para alívio de desconforto gástrico similar ao observado em hortelã.
  8. Bekir, J. M.; et al. (2004). “Evaluation of possible toxic effects of spearmint (Mentha spicata) on kidney and liver in rats.” Toxicologic and Environmental Chemistry, 86(1-4), 239–258. PMID: 15826905.
    • Confirma segurança de hortelã-comum em doses moderadas, sem causar alterações significativas em marcadores hepáticos ou renais.

 

 

 

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