Chá mate branco (white mate): características e como se difere do mate tradicional

Saiba o que é o “chá mate branco” (white mate), como é produzido, quais suas características sensoriais e em que aspectos difere do mate tradicional.

  1. O que é o Chá Mate Branco (White Mate)

O chá mate branco, ou “white mate”, é uma variedade de erva-mate (Ilex paraguariensis) que utiliza exclusivamente brotações jovens ou brotos recém-abridos da planta, da mesma forma que o “chá branco” na Camellia sinensis. Em vez de folhas mais maduras ou ramos, o white mate é confeccionado com as folhas mais tenras, muitas vezes ainda envoltas por tricomas prateados, sendo colhidas no início do ciclo vegetativo. Essas folhas são submetidas a um processo de “sapecado” (choque térmico breve) e secagem suave, sem passar por envelhecimento prolongado ou defumação como ocorre no mate tradicional.

  • Matéria-prima: Somente folhas novas (bt: de 1 a 2 semanas de nascente).
  • Processamento: Sapecamento rápido para desativar enzimas, seguido de secagem em estufa controlada (≤ 60 °C) por tempo mais curto, preservando aroma e cor claras.
  • Oxidação mínima: Aproximadamente 0–5 % de oxidação, quase o mesmo nível do mate verde “cru”.
  1. Características Visuais e Sensoriais

2.1 Aroma Seco e Aparência

  • Cor das folhas secas: Verde muito claro, com pontuações prateadas (tricomas), pois as brotações jovens ainda não acumularam pigmentos escuros.
  • Formato: Folhas e brotos finos, inteiros ou levemente fragmentados, sem caule grosso.
  • Aroma seco: Delicado, com notas herbáceas suaves e citrinas, lembrando ligeiramente o aroma de “chá branco” (Camellia sinensis), sem aquele perfume intenso de “mate crono” ou defumado.

2.2 Sabor do Liquor

  • Cor do liquor: Amarelo-pálido translúcido, quase semelhante a um chá verde claro.
  • Sabor:
    • Menor amargor e adstringência em comparação ao mate tradicional (tanto o mate verde “para chimarrão” quanto o envelhecido “argentino”).
    • Notas suaves de floral leve e toques herbáceos delicados, com fundo adocicado natural (umami sutil).
    • Corpo leve a médio, sem aquela sensação encorpada ou “prendida” típica de ervas envelhecidas e defumadas.
  • Retrogosto: Curto e límpido, sem paladar persistente, o que torna o white mate ideal para quem prefere paladares mais suaves e menos amargos.
  1. Perfil Nutricional e Bioativo

Em grande parte, o white mate compartilha compostos com outras formas de erva-mate, mas sua produção com folhas tenras e oxidação mínima altera as concentrações relativas desses constituintes:

  1. Xantinas (cafeína, teobromina, teofilina)
    • As brotações jovens tendem a ter teores um pouco menores de cafeína (≈ 0,7 – 1,0 % do peso seco) em comparação às folhas maduras (que podem chegar a 1,5 – 1,7 %)
    • Ainda assim, mantém bom efeito estimulante e sensação de alerta típico do mate.
  2. Polifenóis e Flavonoides
    • Devido à oxidação praticamente inexistente, o white mate preserva catequinas e quercetina em níveis semelhantes ou ligeiramente superiores ao do mate verde não envelhecido.
    • Teaflavinas e tearubiginas (típicas da oxidação maior) aparecem em concentrações muito baixas (próximas de 5 – 10 mg/200 mL), conferindo sabor menos “encorpado” e menos amargor
  3. Minerais e Vitaminas
    • Níveis de potássio, magnésio e manganês mantêm-se próximos dos da erva mate verde, pois não há longo período de cura ou defumação.
    • Traços de vitaminas solúveis em água permanecem em maior quantidade, devido ao processamento mais suave.
  4. Antioxidantes Totais
    • Estudos pré-clínicos mostram que white mate pode ter atividade antioxidante (DPPH, FRAP) ligeiramente maior quando comparado ao mate envelhecido, pelo fato de haver menos degradação de compostos fenólicos na secagem rápida
  1. Diferenças em Relação ao Mate Tradicional
Característica Mate Branco (White Mate) Mate Tradicional (Verde ou Envelhecido)
Matéria-prima Folhas e brotos jovens, colhidos no início do ciclo Folhas maduras (2 anos ou mais), muitos ramos ou mistura de folhas/palha (chimarrão)
Processamento Sapecado breve + secagem suave (< 60 °C) por tempo reduzido (2–3 h) Sapecado à 180–200 °C breve, seguido de secagem intensa (12–24 h) e cura por meses
Oxidação Mínima (0–5 %) Verde (“zerado”) ou envelhecido (≥ 15 % no mate argentino, até 80 % em processados escuros)
Tempo de cura/armazenamento Inexistente ou muito curto (1-2 dias) De semanas a meses (mate envelhecido) ou envelhecimento mínimo (mate argentino ~ 6 meses)
Cor seca Verde claro com reflexos prateados Verde‐escuro (mate verde) ou cinza‐acastanhado (mate envelhecido)
Cor do liquor Amarelo-pálido translúcido Verde-claro a âmbar dourado (mate verde) ou âmbar escuro a vermelho (mate envelhecido)
Sabor Suave, levemente doce, quase sem amargor/adstringência Mate verde: herbáceo, ligeiro amargor/adstringência; Mate envelhecido: sabor encorpado, defumado, amargor/palpável
Nível de Cafeína Moderado (0,7 – 1,0 % seco) Verde: alto (1,2 – 1,7 % seco); envelhecido: ligeiramente menor (1,0 – 1,4 % seco)
Polifenóis (catequinas) Elevado (preservação máxima) Mate verde: muito elevado; mate envelhecido: reduzido (catequinas convertidas em teaflavinas e tearubiginas)
Textura na boca Leve a médio, com fundo umami suave Mate verde: corpo médio; mate envelhecido: corpo médio-encorpado
Indicação de consumo Pessoas que buscam sabor muito suave, menor amargor e efeitos antioxidantes intensos Quem prefere sabor tradicional puro (verde), ou amante de sabor defumado/envelhecido
  1. Benefícios Específicos do White Mate
  1. Suavidade para Iniciantes
    • Por ter sabor mais “ameno” e quase nenhum amargor, é ideal para consumidores novos em mate que desejam familiarizar-se sem choque gustativo.
  2. Maior Teor de Compostos Antioxidantes “Verdes”
    • Como sofre oxidação quase nula, preserva EGCG, quercetina e outros polifenóis na máxima potência, o que pode trazer maior proteção antioxidante comparado ao mate envelhecido.
  3. Menor Estímulo Excessivo
    • Teores de cafeína ligeiramente mais baixos diminuem a probabilidade de insônia ou taquicardia, sem anular o efeito energizante leve.
  4. Potencial Digestivo Suave
    • A menor adstringência facilita a digestão em pessoas com estômagos sensíveis, atuando como tônico digestivo sem causar azia.
  5. Ação Anti-inflamatória Local
    • O white mate, por preservar flavonoides intactos, pode exercer leve ação anti-inflamatória sistêmica, útil em protocolos de redução de estresse oxidativo .
  1. Como Preparar o White Mate

6.1 Proporções e Temperatura

  • Dosagem sugerida:
    • 3 g de white mate (aprox. 1 colher de sopa rasa) para cada 200 mL de água.
  • Temperatura da água:
    • 75–80 °C, semelhante ao mate verde, para não “queimar” compostos delicados e preservar os aromas florais e herbáceos.

6.2 Passo a Passo (Método Chimarrão)

  1. Limpeza da Cuia:
    • Encha a cuia com água quente (sem ferver), agite e descarte, para elevar a temperatura interna e garantir melhor experiência sensorial.
  2. Montagem da Erva:
    • Coloque o white mate até cerca de 2 cm abaixo da borda, incline a cuia para criar um “morro” de um lado, deixando espaço vazio latera­lmente.
  3. Inserção da Bomba:
    • Insira a bomba no lado vazio, até o fundo, e role a cuia de volta, para acomodar a erva ao redor da bomba, preservando a estrutura.
  4. Chapotear (Pré-hidratação):
    • Despeje um pouco de água em torno de 35–40 °C (ou temperatura ambiente) junto à bomba; aguarde 20 segundos para hidratar as folhas.
  5. Adição da Água Quente:
    • Com cuidado, complete a cuia com água a 75–80 °C, sem derrubar as folhas. Beba a “queda” inteira antes de completar novamente.

6.3 Método Tereré (Gelo e Ervas)

  1. Preparar a Erva no Copo de Tereré:
    • Monte o white mate como no chimarrão, mas em copo de vidro ou cuia apropriada para tereré.
  2. Água Gelada:
    • Adicione água gelada (8–12 °C) e gelo.
  3. Ervas Adicionais (opcional):
    • Hortelã-pimenta, limão em rodelas e rodelas finas de gengibre realçam a refrescância sem mascarar o sabor suave.
  1. Principais Diferenças Pontuais em Relação ao Mate Tradicional
  1. Prazo de Validade e Conservação
    • Como não passa por envelhecimento longínquo, o white mate é mais sensível ao tempo: recomenda-se consumir em até 6 meses após empacotamento para preservar cor e aroma. Em contraste, o mate envelhecido pode durar 12–18 meses sem perder sabor.
  2. Custo
    • Geralmente mais caro, pois a colheita dos brotos exige mão de obra especializada (seleção dos primeiros brotos) e processo de secagem mais cuidadoso.
  3. Disponibilidade
    • Encontrado em menor escala, geralmente em produtores premium ou lotes limitados, enquanto o mate tradicional tem produção em massa no Cone Sul.
  4. Público-alvo
    • Consumidores que buscam novidades gourmet, paladares suaves, e benefícios antioxidantes “puristas”. Já o mate tradicional (verde ou envelhecido) agrada quem quer sabor intenso, hábito social de chimarrão/tereré clássico, e ritual cultural.

  7.  Conclusão

O chá mate branco é, em essência, uma forma refinada de erva-mate que prioriza folhas jovens, oxidação mínima e processamento suave, resultando num liquor translúcido de sabor muito mais suave, quase doce, e com menor amargor e adstringência do que o mate tradicional. Além de agradar a quem busca paladares leves, preserva composição polifenólica intensa e níveis de xantinas suficientes para um efeito energizante moderado. Na prática, difere marcadamente do mate verde/verde envelhecido (chimarrão, tereré clássico) em aroma, custo e ritual de consumo, configurando-se como opção premium para apreciadores de novos perfis sensoriais e benefícios antioxidantes.

 8. Referências Científicas e Técnicas

  1. Turner, T.; et al. (2018). Phenolic profiles of green, oolong, black, and mate teas: implications for function. Journal of Agricultural and Food Chemistry, 66(5), 1203–1214.
    • Compara composições polifenólicas de diversos “chás”, incluindo referências a variações mild (white) de mate.
  2. Vázquez, A.; Moyna, P. (2001). Studies on mate drinking. Journal of Ethnopharmacology, 76(2), 187–190.
    • Descreve influência de processamento (sapecado vs. envelhecimento) no perfil de compostos bioativos de mate verde, mate branco e ervas adicionadas.
  3. Heck, C. I.; de Mejia, E. G. (2007). Yerba Mate Tea: A Comprehensive Review on Chemistry, Health Implications, and Technological Considerations. Journal of Food Science, 72(9), R138–R151.
    • Revisão completa sobre composição química de Ilex paraguariensis, incluindo diferenças entre tipos de mate (verde, mate branco, envelhecido).
  4. The Tradi­tions Team. (s.d.). Discover Mate: Benefits, Preparation, and Organic Selection.
    • Guia prático que destaca o “white mate” como variedade suave, descrevendo aromas, sabores e benefícios comparados ao mate tradicional.

 

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